Etanol produzido a partir de resíduos urbanos supera o da cana e sinaliza nova era energética
Ambiálcool, desenvolvido pela Ambipar, usa resíduos alimentares para criar etanol sustentável com desempenho similar ao combustível tradicional.
A busca por combustíveis renováveis e soluções sustentáveis acaba de ganhar um protagonista inesperado no Brasil. Trata-se do Ambiálcool, um etanol inovador produzido a partir de resíduos alimentícios, como balas, chocolates, sucos e outros produtos descartados pela indústria por prazo de validade vencido ou fora de padrão.
Desenvolvido pela Ambipar, o combustível já demonstrou desempenho praticamente idêntico ao do etanol tradicional de cana-de-açúcar, prometendo transformar lixo em energia limpa e competitiva.
Os testes, conduzidos com um Citroën Basalt 1.0 flex, revelaram que o consumo e a performance do Ambiálcool são equivalentes aos combustíveis vendidos em postos. Mais que uma inovação tecnológica, o projeto representa um avanço significativo para a economia circular e para a redução de resíduos destinados a aterros e incineração.
Do lixo ao tanque: como nasce o Ambiálcool?
Foto: Shutterstock
A produção começa com a coleta de resíduos ricos em açúcares e amido, descartados por grandes indústrias alimentícias, entre elas, a Mondelēz.
Esses insumos passam por fermentação biológica e destilação em usinas parceiras, resultando em um etanol hidratado com até 95% de pureza, aprovado pela Agência Nacional do Petróleo (ANP).
Cada 500 toneladas de resíduos podem ser convertidas em até 300 mil litros de etanol, superando a produtividade média da cana em alguns casos. O combustível já abastece uma frota experimental de 22 veículos da Ambipar em Nova Odessa (SP).
Resultados dos testes de desempenho
Comparado ao etanol de posto, o Ambiálcool obteve um “empate técnico”:
- Consumo urbano: 9,3 km/l (Ambiálcool) vs. 10,1 km/l (etanol tradicional);
- Consumo rodoviário: 11,9 km/l vs. 12,5 km/l;
- Aceleração 0-100 km/h: 15,7 s vs. 15,2 s (diferença de 3,8%).
Segundo especialistas, a experiência de direção permaneceu praticamente idêntica, sem perda perceptível de torque ou reatividade.
Impacto ambiental e econômico
O Ambiálcool não apenas reduz emissões de carbono, mas também diminui a dependência de monoculturas agrícolas como a cana-de-açúcar e o milho.
Com custo médio de produção semelhante ao etanol tradicional (R$ 4,27/litro, segundo a ANP), o combustível ainda pode se tornar mais barato com a comercialização de créditos de carbono.
Benefícios diretos:
- Redução de toneladas de lixo alimentício por ano;
- Menor pressão sobre áreas agrícolas;
- Potencial para novas receitas com subprodutos e créditos ambientais.
Desafios e futuro
Apesar dos resultados positivos, o Ambiálcool ainda não está disponível ao consumidor. Sua expansão depende de novas parcerias industriais, incentivos governamentais e da ampliação da infraestrutura de produção.
O projeto também enfrenta o desafio de aceitação do público, já que o etanol reciclado possui odor semelhante ao álcool hospitalar, característica natural de sua pureza e composição.
A Ambipar pretende dobrar a capacidade produtiva até 2025 e já estuda novas aplicações, como uso em células de hidrogênio e produtos de limpeza.
Se os planos avançarem, o Brasil pode ver nascer um novo capítulo em sua história como potência global em biocombustíveis sustentáveis.