Fechou o cerco: Cade vai monitorar mais de perto iFood, 99Food e outras plataformas delivery
Monitoramento de aplicativos de entrega visa garantir concorrência e preços justos no setor.
O Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) apertou o cerco sobre o mercado de entrega de refeições, em meio à disputa cada vez mais acirrada entre os principais aplicativos do setor. O órgão notificou iFood, 99Food, Keeta e Rappi, grandes players do setor.
O objetivo é ampliar o monitoramento das práticas comerciais e dos impactos sobre a concorrência e os preços. O aviso foi encaminhado no sábado, 1º de novembro, a representantes das quatro plataformas.
A ofensiva ocorre em um momento de forte movimentação global: as chinesas DiDi e Meituan entram no jogo com fôlego financeiro e estratégia de expansão acelerada. A primeira fortalece o 99Food, enquanto a segunda traz para o Brasil o Keeta, app líder mundial em delivery de comida.
Com ruas repletas de motociclistas e promoções cada vez mais ousadas, o Cade tenta entender até que ponto o avanço das gigantes pode alterar o equilíbrio competitivo e pressionar o mercado de trabalho no setor.
Escopo do monitoramento e cidades-alvo
O conselho decidiu observar práticas comerciais e efeitos concorrenciais nas principais praças do país. O documento define as áreas de interesse, porém não lista empresas específicas.
Ainda assim, a orientação alcança os maiores aplicativos e abrange capitais e o litoral paulista.
O plano de vigilância cobre centros com forte densidade de pedidos e expansão recente de concorrentes. Nesse sentido, o Cade incluiu São Paulo, a Baixada Santista, Goiânia e o Rio de Janeiro.
Novos competidores e expansão
A DiDi, controladora da 99, reativou o 99Food no Brasil em junho, começando por Goiânia. Depois, a operação chegou a São Paulo em agosto e avançou para o Rio em outubro. Por outro lado, a Meituan impulsiona o Keeta, ampliando a disputa por usuários e restaurantes.
O Keeta iniciou atividades em Santos e São Vicente no último dia 30. Para atrair consumidores, a plataforma aposta na promoção “horário garantido”, com ressarcimento quando o pedido atrasa. Nesses casos, o cliente recebe um voucher de até R$ 50, liberado em até 24 horas e utilizável até três vezes ao dia.
Reações das plataformas
O iFood afirma deter cerca de 80% do mercado de delivery, segundo a empresa, e considera oportuno o acompanhamento do Cade. Contudo, a companhia aponta o avanço de práticas que julga predatórias e insustentáveis, com risco de prejuízos estruturais à concorrência e ao ecossistema de restaurantes, entregadores e consumidores.
Com 14 anos de atuação no país, o iFood menciona um acordo firmado com o órgão em fevereiro de 2023. Naquela época, o debate envolvia a exclusividade com restaurantes.
Assim, a empresa diz cumprir integralmente as condições e defender a transparência e regras claras para o setor.
Já a 99Food declarou ver com naturalidade a supervisão do Cade e considera essencial promover um desenvolvimento sustentável do mercado. A empresa reforça o compromisso ético e pró-concorrencial.
Sua estratégia, segundo a marca, amplia a demanda para restaurantes, a renda dos entregadores e a conveniência com preços justos.
Em outubro, a 99Food perdeu ação movida pelo Keeta sobre cláusulas de exclusividade em contratos com restaurantes. Entretanto, a companhia afirma que não utiliza exclusividade desde agosto. Nesse sentido, a plataforma promete seguir investindo e estimulando a concorrência.