Marcas chinesas se aproveitam da fraca presença da Tesla e dominam América do Sul
Sem competição da Tesla, montadoras chinesas dominam o mercado de elétricos sul-americano.
Quando a Tesla ainda hesita em fincar bandeira na maior parte da América do Sul, outra força avança sem pedir licença. Montadoras chinesas ocupam o vácuo com preços agressivos e uma eficiência logística que se tornou peça-chave na disputa elétrica.
O resultado é simples: o consumidor encontra mais variedade e uma rede de suporte que cresce rapidamente.
O Peru tornou-se o laboratório dessa virada. A chegada maciça de modelos da BYD, Geely e GWM derrubou os preços e reorganizou o mercado local. Em muitos casos, comprar um elétrico chinês custa cerca de 60% do valor de um Tesla, um contraste que acelera a migração para a mobilidade limpa.
Percebendo o movimento, gigantes tradicionais não ficaram parados. Toyota, Kia e Hyundai ampliaram seus portfólios para manter a relevância nesse novo tabuleiro. Assim, a disputa energética se intensificou e transformou a região em um dos cenários mais vibrantes da eletrificação global.
O exemplo no Peru
Em 2019, o empreendedor de energia renovável Luis Zwiebach voou à Califórnia para dirigir um Tesla Model 3, porque não existiam importadores locais. Ele enfrentou entraves para nacionalizar o veículo. Depois, comprou um exemplar importado por outro proprietário e seguiu adiante com a ideia.
Naquele período, até recarregar exigia criatividade. Faltava aterramento adequado na residência de praia de um amigo, e ele improvisou um método para abastecer o carro com segurança.
Desde então, o quadro mudou de forma acelerada. Entretanto, até hoje, a Tesla ainda não tem um showroom no Peru.
Invasão chinesa e preços redefinem o mercado
Entre janeiro e setembro, o Peru registrou 135.394 automóveis novos. Dentro desse total, os eletrificados ainda são minoria, mas ganharam fôlego. Híbridos e elétricos somaram 7.256 unidades, o que representou uma alta de 44% ante o mesmo período do ano anterior.
As montadoras chinesas ocupam rapidamente as vitrines com modelos acessíveis, muitas vezes a cerca de 60% do preço de um Tesla. Assim, a barreira de entrada caiu e o interesse do público vem crescendo.
Logística e geopolítica aceleram entregas
A inauguração do Porto de Chancay, construído pela China ao norte de Lima, cortou pela metade o tempo de travessia marítima entre a Ásia e a América do Sul. Consequentemente, a importação ganhou ritmo.
Esse avanço coincide com as barreiras comerciais na Europa e nos Estados Unidos.
A guerra de preços no mercado interno chinês e o excesso de produção redirecionam volumes para novos mercados. Assim, fabricantes ampliam embarques para o Oriente Médio, a Ásia Central e a América Latina. Por outro lado, a concorrência regional torna-se mais intensa e dinâmica.
Rede de vendas e recarga ganha corpo
A BYD planeja inaugurar o quarto concessionário em Lima até o fim do ano, enquanto Chery e Geely já somam mais de uma dezena de lojas no país. Em média, mais de dois carros elétricos novos são vendidos por dia no Peru.
Zwiebach relata que a corrida por carregadores residenciais acompanha as vendas. Incorporadoras imobiliárias, centros comerciais e universidades ampliam os pedidos. Em um caso, a instalação de um ponto de recarga definiu a venda de uma cobertura.
Portanto, a infraestrutura torna-se um argumento comercial e acelera a adoção desse tipo de veículo.
No agregado, a combinação de preço, disponibilidade e logística favorece a expansão regional das marcas chinesas. A ausência de showrooms da Tesla em mercados-chave da América do Sul abre espaço para rivais, permitindo que montadoras da China moldem hábitos e padrões de compra em ritmo acelerado.