Desempenho ruim das montadoras tradicionais na China pode afetar o Brasil

Quando se compara o mercado automobilístico do Brasil e da China, as diferenças são inúmeras. A primeira delas é o volume de vendas: enquanto no país asiático se vende mais de 20 milhões de carros novos por ano, em nosso país a venda é de apenas 10% desse montante. Outro fator é que, na China, os eletrificados já somam mais de 20% do mercado, enquanto por aqui, representam uma fatia muito baixa do setor.

Ainda assim, não tem como negar: o que ocorre no maior mercado de carros do mundo também impacta nas operações do Brasil.

China

Isso ocorre porque as montadoras, em âmbito global, são completamente influenciadas pelo mercado chinês. “O mercado deles é gigantesco, perder uma pequena fatia lá é perder muito. As montadoras tradicionais estão sofrendo muito por lá. Nos últimos três anos o mercado não cresceu, mas houve um aumento na concorrência. As montadoras chinesas deram saltos tecnológicos absurdos”, explica Ricardo Bacellar, consultor automotivo, à colunista Paula Gama, do UOL Carros.

Por isso, em uma tentativa de se manter relevante no mercado chinês, as montadoras investem alto em pesquisa, desenvolvimento, assim como em renovação da frota ou mesmo compra de parte de outras montadoras locais. A Volkswagen, por exemplo, anunciou a compra de 5% de participação da Xpeng. O investimento total foi de US$ 700 milhões.

A marca alemã já foi líder no mercado chinês, mas hoje quem está no ponto mais alto do pódio é a BYD, que atua no mercado de carros elétricos e híbridos. E é justamente a eletrificação o calcanhar de Aquiles da Volksvagen e outras montadoras ocidentais. Isso porque, o ritmo de atualização de tecnologia das chinesas é muito rápido.

Tradicionais

Essa mudança de cenário no mercado chinês também afetou outras montadoras tradicionais, como a Chevrolet e a Ford. A segunda, por exemplo, quando abriu mão de fabricar no Brasil, passava por um momento de reestabelecimento da saúde financeira a nível global.

“Na época, fechou fábricas aqui, na Índia e em outros mercados para concentrar investimentos e recuperar vendas na China, onde ia mal naquela época e até hoje é o maior mercado do mundo”, analisa Bacellar à colunista.

Outra marca que sofreu o impacto foi a General Motors, que tem uma baixa de 25% nas vendas na China, quando comparado ao ano de 2022. Na ocasião, a montadora norte-americana vendeu 1,7 milhão de automóveis no país asiático. Este número é tão expressivo que ele é próximo ao somatório de todas as vendas das montadoras no Brasil durante o mesmo período.

Brasil

O nosso país também sofre os impactos do mercado chinês. Isso porque, os investimentos das montadoras em todo o mundo são centralizados nas mãos de poucos investidores. Ou seja, sempre que for necessário escolher a priorização de um mercado, a China sairá na frente devido ao seu montante anual de vendas.

Assim, o primeiro passo será a redução de custos nos demais países, como o Brasil. Em seguida, caso o quadro seja mais grave, ocorre a concentração das produções apenas em países mais rentáveis, o que pode significar o encerramento de produção de grandes marcas automotivas em solo nacional.

*Com informações da coluna Paula Gama/UOL Carros