Enquanto todos corriam para os elétricos, a Toyota foi na contramão e deu ‘checkmate’

Montadora ignorou o hype, seguiu seu próprio plano e pode ter vencido o mercado automotivo.

Em um momento em que montadoras globais apostavam todas as suas fichas na eletrificação total e anunciavam investimentos bilionários em carros elétricos a bateria, a Toyota escolheu seguir um caminho diferente, e foi amplamente criticada por isso.

No entanto, ao que tudo indica, a estratégia da gigante japonesa não apenas evitou armadilhas do mercado, como também pode colocá-la em posição de liderança no futuro próximo.

Uma aposta contra a maré

Enquanto General Motors, Ford e diversas marcas chinesas corriam para lançar modelos 100% elétricos e anunciavam prazos ambiciosos para eliminar motores a combustão, Akio Toyoda, presidente da Toyota e neto do fundador da empresa, manteve o foco em tecnologias alternativas.

Em vez de apostar todas as fichas nas baterias de íons de lítio, a marca intensificou o desenvolvimento de híbridos e de veículos movidos a célula de combustível de hidrogênio.

O resultado dessa estratégia já se fazia sentir antes mesmo da febre elétrica. O Toyota Prius, lançado em 1997, tornou-se um marco da indústria ao popularizar o conceito híbrido no mundo.

Depois, o Toyota Mirai mostrou que era possível ter um carro elétrico sem depender de baterias, utilizando hidrogênio para gerar eletricidade a bordo.

Toyota MIrai (Foto: Divulgação/Toyota)

A corrida elétrica e o cenário global

Nos anos 2010, a pressão pela eletrificação aumentou. A Renault Zoe e o Nissan Leaf foram pioneiros entre os elétricos de produção em massa, seguidos por uma enxurrada de lançamentos.

Governos de países europeus e estados americanos chegaram a anunciar prazos para banir carros a combustão, em alguns casos, já a partir de 2030.

A GM, sob o comando de Mary Barra, chegou a declarar que não investiria mais em híbridos, enquanto a Ford seguiu um caminho semelhante, focando nos elétricos. Já as fabricantes chinesas aproveitaram a oportunidade para dominar a tecnologia de baterias e ganhar vantagem competitiva.

No entanto, a realidade do mercado começou a frear a euforia. Consumidores resistiram à adoção em massa dos elétricos devido ao alto custo, à infraestrutura insuficiente de recarga e à desvalorização acelerada no mercado de usados.

Híbridos ganham força

Segundo dados da JD Power, em 2024, os elétricos representarão apenas 9,2% das vendas nos EUA, enquanto os híbridos já atingirão 11%, com um crescimento mais acelerado.

Além disso, o preço médio de um elétrico ainda é cerca de US$ 5 mil superior ao de um carro a combustão, e a desvalorização é quase o dobro.

Marcas que haviam abandonado outras opções voltaram atrás: a Ford adicionou híbridos à sua linha, a Stellantis ressuscitou motores a gasolina e até marcas de luxo como Mercedes e Porsche reconsideraram projetos de combustão.

A paciência estratégica da Toyota

Enquanto isso, a Toyota observava o mercado amadurecer. Seu primeiro elétrico de produção, o Toyota bZ4X, foi lançado apenas em 2021, um SUV com autonomia acima de 500 km e garantia de até 10 anos. Em seguida, veio o Toyota bZ3X, desenvolvido em parceria com a chinesa GAC, visando preços competitivos no maior mercado de elétricos do planeta.

O plano é claro: investir fortemente em híbridos enquanto prepara, para 2027, uma nova geração de veículos elétricos mais acessíveis, com foco inicial na marca de luxo Lexus. A nova plataforma modular da empresa promete reduzir custos e acelerar a produção global.

O xeque-mate pode estar próximo

Se a previsão da Toyota se confirmar, quando o mercado finalmente estiver pronto para adotar elétricos em massa, a empresa já terá um portfólio completo de veículos eletrificados, incluindo híbridos, híbridos plug-in, elétricos a bateria e movidos a hidrogênio.

Akio Toyoda, tantas vezes acusado de estar “atrasado” na corrida, pode acabar sendo lembrado como o executivo que entendeu antes de todos que a eletrificação não é uma maratona de velocidade, mas sim uma corrida de resistência — onde o vencedor é aquele que cruza a linha de chegada com a tecnologia certa, no momento certo.

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