Escassez! Caminhoneiros estão envelhecendo e jovens não querem dirigir caminhão

Crescente envelhecimento de caminhoneiros e diminuição de novos profissionais preocupam empresas de transporte no Brasil.

O transporte rodoviário é a espinha dorsal da economia brasileira, responsável por mais de 65% do deslocamento de cargas.

No entanto, o setor enfrenta um desafio crescente: a redução no número de motoristas habilitados para conduzir caminhões e o envelhecimento da categoria.

Dados do Senatran mostram uma queda de 62,89% nos habilitados na categoria C em apenas uma década, evidenciando um cenário preocupante para empresas e a logística nacional.

A queda de motoristas habilitados e a idade média preocupante

Foto: Shutterstock

Em 2014, havia 3.582.685 condutores habilitados na categoria C (veículos com carga superior a 3.500 kg). Em 2024, esse número caiu para 1.329.455. Embora nem todos atuem como caminhoneiros, a diminuição reforça a percepção de escassez no mercado.

Segundo Delmar Albarello, presidente do Setcergs, muitas empresas enfrentam caminhões parados por falta de motoristas, gerando perda de contratos e aumento dos custos logísticos. A idade média do profissional é de 46 anos, com 28% entre 46 e 55 anos e 23% acima de 56, segundo pesquisa da CNTA.

Motivos da rejeição à profissão

A dificuldade em atrair jovens para a profissão está ligada a fatores como:

  • Falta de infraestrutura de apoio nas estradas;
  • Medo de assaltos e segurança insuficiente;
  • Preços de frete baixos e descumprimento da Lei do Piso Mínimo de Frete;
  • Longos períodos longe de casa, com viagens que podem ultrapassar 2.800 km.

Além disso, muitos pais hoje incentivam os filhos a buscar outras carreiras, em vez de seguir no transporte de carga, fazendo com que a categoria envelheça rapidamente.

Legislação e desafios regulatórios

A regulação do setor também é um desafio. A Lei 13.703/2018, que estabelece piso mínimo de frete, ainda enfrenta descumprimento e questionamentos no STF.

Outro ponto crítico é a Lei dos Caminhoneiros (13.103/2015), relacionada ao tempo de descanso, que passou por alterações recentes, exigindo 11 horas consecutivas de repouso. Empresas e motoristas reclamam da dificuldade de cumprir a norma, dada a escassez de pontos de parada seguros.

Atualmente, o Brasil conta com apenas oito PPDs (Pontos de Parada e Descanso) adequados, e 176 postos certificados, número insuficiente para atender à demanda nacional.

Estratégias das empresas para atrair novos motoristas

Diante da escassez, empresas têm investido na formação de novos motoristas. Exemplos incluem apoio para tirar a CNH, programas internos de capacitação e incentivo à participação feminina, que representa apenas 1% do setor.

Tiago Santos de Souza, morador de São Paulo, é um exemplo de sucesso: com apoio da Ativa Logística, ele conseguiu se tornar caminhoneiro, conciliando viagens curtas com rotina familiar.

Iniciativas como essa mostram que o setor pode se renovar, embora ainda enfrente desafios estruturais e econômicos significativos.

Um setor em transformação

O transporte rodoviário brasileiro enfrenta uma crise silenciosa: motoristas envelhecem, jovens não entram na profissão e empresas precisam se reinventar.

A escassez de mão de obra ameaça a eficiência da logística, mas iniciativas de formação, incentivo à categoria e melhorias na infraestrutura rodoviária podem garantir que o setor continue sendo um pilar da economia nacional nos próximos anos.

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