Escassez de semicondutores ameaça indústria automotiva e 1,3 milhão de empregos no Brasil

Indústria automobilística brasileira enfrenta risco por falta de semicondutores, ameaçando 1,3 milhão de empregos.

A indústria automobilística brasileira enfrenta um risco crescente devido à escassez global de semicondutores. Segundo a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), a falta desses componentes pode interromper a produção em poucas semanas.

Isso traria um impacto direto na cadeia produtiva, colocando em alerta cerca de 1,3 milhão de empregos. O setor pede uma ação rápida do governo para evitar desabastecimento e prejuízos econômicos.

Veículos modernos dependem fortemente de chips eletrônicos, com cada unidade utilizando de 1 mil a 3 mil desses semicondutores. Eles controlam sistemas essenciais, como freios ABS, airbags, injeção eletrônica, gerenciamento do motor e diversos sensores.

A ausência desses componentes torna impossível a operação das linhas de montagem.

Além do impacto imediato na produção, a falta de semicondutores pode gerar perdas financeiras significativas e atrasos em lançamentos de novos modelos. Para especialistas, a situação reforça a importância de estratégias de estoque, diversificação de fornecedores e investimentos em fabricação nacional de chips.

Pressão do setor e resposta oficial

A Anfavea cobrou ações rápidas e decisivas do governo para evitar o desabastecimento. Em resposta, a assessoria do Ministério da Indústria disse que acompanha os efeitos da cadeia global e dialoga com a indústria para evitar danos às empresas e aos empregos.

Abipeças (Associação Brasileira da Indústria de Autopeças) e o Sindipeças (Sindicato Nacional da Indústria de Componentes para Veículos Automotores) enviaram carta ao vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), Geraldo Alckmin, solicitando apoio para garantir abastecimento.

No texto, as entidades relataram uma forte redução de eletrônicos para módulos de controle, sistemas de injeção e itens de alta tecnologia, sem alternativas locais ou regionais no curto prazo.

Montadoras potencialmente afetadas

Segundo as entidades do setor, a indisponibilidade de chips pode atingir fabricantes instaladas no Brasil. Entre elas, aparecem nomes relevantes do mercado, como Volkswagen, Stellantis, GM, Toyota, Hyundai e BYD.

Tensões internacionais e o papel da Nexperia

A Nexperia, fabricante holandesa de semicondutores com forte ligação com a China e ex-subsidiária da Wingtech Technology, integra cadeias produtivas que incluem etapas em território chinês. Sua atuação é considerada vital para o fluxo de componentes em toda a zona do euro, inclusive no setor automotivo.

Há pouco mais de uma semana, a Holanda assumiu o controle da Nexperia para garantir chips à Europa em emergências.

O governo holandês citou o caráter altamente excepcional e problemas de governança; depois, a China bloqueou a comunicação com a fábrica local e restringiu as exportações, pressionando a Volkswagen e a Stellantis na Europa.

Segundo a Reuters, a unidade chinesa da Nexperia retomou a produção e distribuição a fornecedores locais, com vendas em yuan e orientação para transações apenas nessa moeda. Enquanto isso, a operação holandesa busca parcerias fora da China e avisou que não garante a qualidade da produção na subsidiária chinesa.

Impactos técnicos na produção e nas cadeias

A crise atual remete ao período da pandemia, quando montadoras pararam linhas por falta de componentes. Agora, as restrições no exterior tendem a reverberar no país, dada a interconexão com as cadeias europeias e chinesas.

Consequentemente, a ausência de módulos compromete os sistemas de segurança e comando do motor, inviabilizando a produção.

Em nota, Igor Calvet, presidente da Anfavea, destacou a urgência do tema e a necessidade de mobilização para evitar um colapso na indústria. Segundo ele, estão em jogo cerca de 1,3 milhão de empregos em toda a cadeia automotiva, em um ambiente de juros altos e demanda desaquecida.

O quadro exige coordenação imediata entre governo e indústria para atravessar as próximas semanas sem paralisações. Enquanto a disputa envolvendo a Nexperia redefine fluxos entre Holanda e China, o Brasil corre para garantir o fornecimento e preservar empregos.

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