Nova mistura de etanol na gasolina: seu carro vai beber mais e andar menos?
A mudança no percentual de etanol na gasolina pode gerar problemas técnicos e aumentar o consumo, segundo especialistas.
A recente decisão do governo federal de alterar a proporção de etanol na gasolina comercializada no Brasil vem gerando questionamentos e preocupações entre especialistas e consumidores.
A medida, que entrou em vigor no dia 1º de agosto, elevou de 27% para 30% o teor obrigatório de etanol anidro misturado à gasolina comum. No caso do diesel, o biodiesel passou de 14% para 15% na composição.
Apesar de seguir uma tendência de incentivo ao uso de combustíveis renováveis, a mudança pode trazer consequências diretas no desempenho dos veículos, no consumo de combustível e no custo final para o motorista.
De acordo com o engenheiro automotivo e colunista da CNN, Boris Feldman, o principal impacto da nova composição está na redução da eficiência energética do combustível.
“O etanol possui um poder calorífico inferior ao da gasolina, o que significa que, quanto maior sua concentração, menor será a autonomia por litro abastecido”, explica o especialista.
Isso significa que, mesmo que o preço da gasolina venha a cair com a medida, algo que ainda não se concretizou, o motorista pode acabar gastando mais, já que precisará abastecer com maior frequência.
Carros mais antigos e motos podem ser os mais afetados
Foto: Shutterstock
Veículos flex, fabricados no Brasil desde 2003, foram projetados para funcionar com diferentes proporções de etanol e gasolina, portanto não devem apresentar falhas significativas com a nova mistura.
No entanto, carros exclusivamente a gasolina e motocicletas mais antigas podem sofrer dificuldades técnicas, especialmente na partida a frio, momento em que o motor requer maior eficiência de combustão, dificultada pela alta concentração de etanol.
Já a gasolina premium, que mantém o percentual de etanol em 25% e apresenta melhor desempenho, permanece inalterada. O problema é que esse tipo de combustível tem um custo até 50% mais alto, tornando-se inviável para grande parte dos condutores brasileiros.
Brasil lidera em teor de etanol, mas a eficiência é questionada
Se comparado ao cenário internacional, o Brasil apresenta uma das maiores proporções de etanol misturado à gasolina.
Nos Estados Unidos, a média é de apenas 10%, enquanto em países europeus varia entre 2,5% e 5%. Boris Feldman considera que o ideal seria manter essa proporção entre 10% e 20%, a fim de garantir um equilíbrio entre sustentabilidade, desempenho e economia para o consumidor.
A promessa de que a nova fórmula poderia reduzir o preço final da gasolina ainda não se concretizou nas bombas. E mesmo que haja uma queda eventual, ela pode ser insuficiente para compensar o aumento do consumo provocado pelo menor rendimento energético da mistura.
Mais etanol pode significar menos economia
Embora a proposta do governo esteja alinhada com políticas de incentivo a combustíveis renováveis e redução de emissões, a ampliação do teor de etanol na gasolina levanta dúvidas quanto à sua real vantagem para o consumidor.
A expectativa de uma economia no preço final ainda não se confirmou, e a possível perda de autonomia dos veículos pode representar um custo maior no médio prazo.
Motoristas devem ficar atentos ao comportamento do veículo após a mudança e, se necessário, avaliar alternativas como o uso da gasolina premium ou ajustes na manutenção do motor para evitar prejuízos.
A transparência nas políticas públicas e a análise de impacto para o consumidor final são fundamentais para que avanços ambientais não se transformem em retrocessos econômicos.
*Com informações CNN