Novo desafio das montadoras é convencer o consumidor a comprar um carro elétrico usado
Mercado de carros elétricos usados enfrenta obstáculos que também se refletem nas vendas de modelos zero quilômetro.
Nunca na história mundial as vendas de carros elétricos atingiram volumes tão expressivos quanto no ano passado. Segundo dados da Associação Brasileira do Veículo Elétrico (ABVE), foram cerca de 94 mil unidades de veículos eletrificados emplacadas no Brasil em 2023.
Mas essa transição passa por um desafio bem grande: a rejeição aos modelos usados. Além de reduzir rapidamente o preço dos automóveis a bateria, a indisposição à compra de elétricos usados também se coloca como um obstáculo para o mercado de zero-quilômetros.
“Não há demanda por carros elétricos usados. Isso prejudica a história do custo de propriedade”, afirma Matt Harrison, diretor de operações da Toyota na Europa.
Somado a isso está a guerra de preços entre Tesla e montadoras chinesas, que tem reduzido os preços dos eletrificados e ameaçado o faturamento de grupos como Volkswagen e Stellantis. Para compensar a queda nos valores, as montadoras e revendedoras tentam elevar os juros do leasing, modalidade de contrato que garante ao consumidor o direito de uso do bem.
“Quando um carro perde 1% de seu valor, eu obtenho 1% a menos de lucro”, afirmou Christian Dahlheim, líder da divisão de serviços financeiros da VW. Segundo ele, as dificuldades com os carros elétricos usados podem causar bilhões de euros em perdas anuais para a indústria.
Enfrentamento do problema
Na China, os cemitérios de automóveis eletrificados parecem um mau presságio para Europa e Estados Unidos, onde já existem tentativas de políticos de reduzir o apoio à indústria.
As ações adotadas pelas empresas para lidar com o problema passam por uma série de questões, incluindo a descarbonização da frota. Uma das soluções possíveis é direcionar os carros elétricos para serviços de mobilidade e compartilhamento de veículos, mas até esses negócios possuem demanda limitada.
Mesmo o envio de carros a combustão indesejados à África, que é uma prática comum, não pode ser repetido com os elétricos devido à falta de infraestrutura da maioria dos países do continente.
Segundo a BloombergNEF, a bateria representa cerca de 30% do valor de um carro elétrico, mas esse percentual deve recuar nos próximos anos. Enquanto isso, montadoras como Volkswagen, Stellantis e Renault anunciaram planos de lançar elétricos por 25 mil euros ou menos.
Apesar das perspectivas positivas de preços mais baixos, alcances mais longos e carregamento mais rápido, a maioria dos consumidores ainda reluta em comprar elétricos usados e a situação fica cada vez mais preocupante.