O que acontece com a bateria de um carro elétrico antigo?
Com o avanço da eletromobilidade, cresce o debate sobre o destino de componentes após o fim da vida útil dos veículos.
Com o crescimento acelerado da eletromobilidade, um novo dilema ambiental e industrial começa a ganhar destaque: o que fazer com as baterias de carros elétricos ao fim de sua vida útil? A resposta a essa pergunta será crucial para o futuro da mobilidade sustentável e da gestão de energia global.
Especialistas estimam que, até 2030, mais de 227 GWh de baterias automotivas serão aposentadas em todo o mundo. Embora essas baterias deixem de atender às exigências dos veículos elétricos, elas ainda conservam uma quantidade considerável de energia, o suficiente para desempenhar um novo papel: armazenar energia em sistemas estacionários.
Quando a bateria se despede das ruas
As baterias de carros elétricos costumam durar entre 8 e 10 anos. Após centenas de ciclos de carga e descarga, elas perdem parte de sua capacidade e, ao atingirem cerca de 80% de desempenho, são geralmente substituídas. Porém, isso não as torna inúteis.
Mesmo fora dos automóveis, essas baterias ainda oferecem energia suficiente para aplicações menos exigentes.
Em vez de serem descartadas ou imediatamente recicladas, podem ser reaproveitadas em residências, empresas, sistemas de iluminação pública e até mesmo na rede elétrica, atuando como reservas de energia eficientes e sustentáveis.
Bateria de carros elétricos é similar à de iPhones: recomenda-se a troca ao chegar a 80% de desgaste (Foto: iStock)
A 2ª vida das baterias elétricas
Esse processo de reutilização já é realidade em diversos países. Chamado de segunda vida das baterias, ele transforma o que antes era considerado resíduo perigoso em ativos energéticos valiosos.
Muitos projetos utilizam baterias aposentadas para armazenar a energia gerada por painéis solares, alimentar pontos de ônibus ou fornecer backup energético para edifícios comerciais.
Além de reduzir o impacto ambiental, essa prática economiza recursos naturais e pode prolongar a vida útil das baterias por mais 10 anos, desde que aplicada em contextos de baixa demanda energética.
Reutilizar vale a pena? Os desafios do reaproveitamento
Apesar das vantagens ambientais e econômicas, o reaproveitamento de baterias de veículos elétricos ainda enfrenta obstáculos importantes. Cada unidade precisa passar por testes rigorosos, desmontagem segura e adaptação dos componentes, o que torna o processo custoso; em alguns casos, quase tão caro quanto fabricar uma bateria nova.
Outro entrave é a falta de padronização: os diferentes modelos e formatos de baterias exigem tratamentos específicos, o que torna a logística e o reaproveitamento complexos e demorados.
Para superar esses desafios, especialistas defendem o desenvolvimento de tecnologias para automatizar o processo de triagem e testes, além da criação de um “passaporte da bateria”, um documento digital que registre todo o histórico de uso, facilitando a avaliação de seu estado de conservação e potencial de reaproveitamento.
Setor automotivo já está se movimentando
Montadoras como Tesla, Nissan e Toyota já estão investindo fortemente em projetos de segunda vida para baterias. A consultoria McKinsey aponta que, até o final da década, o volume de baterias aposentadas poderá atender até 100% da demanda global de armazenamento estacionário de energia.
Esse reaproveitamento pode ser o elo que faltava entre a mobilidade elétrica e a transição energética sustentável, unindo economia, inovação e responsabilidade ambiental.
À medida que a frota de veículos elétricos cresce, cresce também a responsabilidade de garantir um destino inteligente e sustentável para suas baterias. Reutilizá-las não é apenas uma solução viável; é um passo essencial para que a eletromobilidade realmente cumpra sua promessa de um futuro mais limpo, eficiente e equilibrado.