Prepare o bolso: pneus no Brasil podem subir de preço já nos próximos dias
Decisão do governo pode deixar pneus mais caros e afetar milhões de motoristas.
A disputa entre a indústria nacional e os fabricantes asiáticos deixou de se restringir aos carros prontos e chegou a um item essencial para qualquer motorista: os pneus.
Mais da metade dos pneus vendidos no Brasil é importada, e uma decisão prestes a ser tomada pelo governo pode mudar radicalmente esse cenário.
Se confirmada, a medida deve encarecer o produto, trazendo impactos diretos no bolso do consumidor, na competitividade do setor e até mesmo na segurança das estradas.
O que está em jogo na disputa tributária
O embate começou em agosto de 2024, quando a ANIP (Associação Nacional da Indústria de Pneumáticos) solicitou ao governo que elevasse o imposto de importação de pneus de passeio de 16% para 35%, teto permitido pela Organização Mundial do Comércio (OMC).
A justificativa era clara: concorrência desleal dos pneus vindos da Ásia, especialmente da China, Vietnã, Índia e Malásia, com preços abaixo do custo de produção.
Em outubro do mesmo ano, a Camex (Câmara de Comércio Exterior) atendeu parcialmente ao pedido, elevando a tarifa para 25% por 12 meses.
Esse prazo, no entanto, está prestes a expirar. Agora, a indústria pressiona por um novo aumento, desta vez para o limite de 35%. A decisão pode sair já na reunião do Comitê-Executivo de Gestão da Camex (Gecex).
Foto: Shutterstock
O argumento da indústria nacional
Segundo a ANIP, o Brasil tornou-se um dos principais alvos das exportações asiáticas. Um estudo da consultoria LCA mostra que, mesmo após o reajuste para 25%, os pneus importados continuam entrando no país com preços muito abaixo do mercado internacional, em alguns casos, até inferiores ao custo das matérias-primas.
Em abril de 2025, por exemplo, um pneu asiático chegava ao Brasil custando US$ 3,2 por kg, contra uma média global de US$ 5,6.
A China, responsável por 77% das importações, praticava valores ainda menores, em torno de US$ 2,7 por kg. Para Rodrigo Navarro, presidente da ANIP, trata-se de uma distorção de mercado que ameaça a sobrevivência da produção nacional.
O estudo também aponta que o impacto da elevação para 35% sobre a inflação seria quase imperceptível: apenas 0,005 ponto percentual em 12 meses.
A posição dos importadores
Do outro lado está a ABIDIP (Associação Brasileira dos Importadores e Distribuidores de Pneus), que classifica o pedido como protecionismo exagerado.
Para a entidade, a medida prejudica diretamente os consumidores, sobretudo os trabalhadores que dependem do carro para gerar renda, como taxistas, motoristas de aplicativo e entregadores.
O receio é que, com preços mais altos, muitos passem a recorrer a pneus usados ou de procedência duvidosa, aumentando os riscos de acidentes.
A ABIDIP ainda defende que o problema não é o preço dos importados, mas sim a falta de fiscalização alfandegária, garantindo que suas associadas não compram produtos abaixo do custo de produção.
Vai pesar no bolso do consumidor?
De acordo com a CNI (Confederação Nacional da Indústria), o aumento da alíquota poderia encarecer os pneus importados em até 16,4%.
Apesar disso, o impacto no IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) seria considerado baixo, variando entre 0,03 e 0,05 ponto percentual.
Por outro lado, os defensores da medida afirmam que o ajuste traria benefícios para a economia, com potencial de gerar R$ 8,9 bilhões ao PIB, criar cerca de 105 mil empregos e movimentar R$ 3,7 bilhões em salários.
Entre proteção e impacto: o dilema dos pneus no Brasil
O debate revela um dilema: de um lado, proteger a indústria nacional de pneus e preservar empregos; de outro, evitar que o consumidor arque com preços mais altos e que a segurança no trânsito seja comprometida.
Independentemente da decisão da Camex, uma coisa é certa: a disputa pelo mercado de pneus no Brasil está apenas começando, e os motoristas devem se preparar para sentir os reflexos no bolso.