Vale a pena ter um agora? Carros elétricos estão desvalorizando, diz pesquisa

Levantamento traz os principais questionamentos no mercado de carros eletrificados: afinal, será que vale a pena ter um modelo por agora?

Os carros elétricos têm ganhado cada vez mais destaque no Brasil, especialmente com o aumento nas vendas de novos modelos. Contudo, uma realidade preocupante se apresenta para os consumidores e frotistas: a alta depreciação desses veículos, que pode chegar a impressionantes 47% em apenas dois anos, conforme um estudo recente. Essa situação tem gerado desconfiança e insegurança em relação ao futuro da mobilidade elétrica no país.

Um levantamento feito pelo AUTOTEMPO revela que os carros 100% elétricos com idade entre dois e três anos estão sendo vendidos por preços que podem ultrapassar 45% a menos que os valores da tabela Fipe. Em alguns casos, o preço de revenda chega a ser menos da metade do valor original pago pelo consumidor. A pesquisa da Kelly Blue Book (KBB) também confirma esse cenário preocupante, na qual os veículos elétricos usados desvalorizaram em média 47% nos últimos dois anos.

O impacto da desvalorização

Foto: Owlie Productions/Shutterstock

Para colocar essa depreciação em perspectiva, a plataforma Webmotors, especialista em vendas de seminovos e usados, notificou uma desvalorização média de 12% para os veículos elétricos em 2024. Esse índice é surpreendente, pois representa o dobro da desvalorização observada nos carros híbridos e quase seis vezes maior do que a média dos veículos com motor a combustão, que é de apenas 2,25%.

Diversos fatores contribuem para a rápida desvalorização dos carros elétricos no Brasil. A durabilidade das baterias é uma preocupação central. De acordo com o consultor automotivo Milad Kalume, as baterias têm uma expectativa de vida em torno de oito anos, e a troca pode representar um custo elevado, tornando o veículo inviável. Isso gera um sentimento de que os carros elétricos se tornam ‘descartáveis’ após certo tempo de uso.

Outro fator complicador é a carência de mão de obra especializada. Mesmo que a manutenção de um carro elétrico seja, em teoria, menos complexa do que a de um veículo a combustão, quando ocorrem falhas, é necessário um mecânico com conhecimento técnico específico, geralmente mais caro. Essa especialização não está amplamente disponível, o que gera insegurança nos consumidores.

Além das preocupações relacionadas às baterias e à manutenção, a infraestrutura de recarga no Brasil ainda é bastante limitada. Até agosto de 2024, haviam apenas 10.622 pontos de recarga disponíveis, e a maioria deles (89%) são de carga lenta, que demora horas para recarregar a bateria. Isso pode desestimular potenciais compradores, que temem ficar sem opções de recarga em viagens longas.

Um fato interessante destacado pela Bright Consulting é que os veículos elétricos de maior valor (acima de R$ 300 mil) desvalorizam menos em comparação aos modelos mais acessíveis. A depreciação média para os elétricos premium no primeiro ano é de 8%, enquanto para modelos mais baratos, essa cifra chega a 15%. Essa dinâmica pode indicar uma maior confiança na tecnologia entre consumidores que adquiriram modelos mais caros.

Locação de veículos: outro setor em alerta

Os impactos da depreciação dos elétricos também são sentidos por empresas de locação de veículos. Muitas locadoras estão reconsiderando seus investimentos em frotas elétricas devido à desvalorização intensa e aos prejuízos na revenda.

A Associação Brasileira de Locadoras de Automóveis (ABLA) lembrou que, apesar de 11 mil unidades de veículos eletrificados terem sido adquiridas nos últimos anos, isso representa menos de 1% da frota total. A frustração contínua com a desvalorização de até 45% nos primeiros modelos elétricos vendidos está levando as locadoras a repensarem sua estratégia.

Apesar das dificuldades, o mercado de carros eletrificados ainda apresenta crescimento. Entre janeiro e julho de 2024, as vendas de veículos eletrificados usados cresceram 90%, totalizando 33 mil unidades, das quais 83% possuem até três anos de uso.

O presidente da Federação dos Revendedores de Veículos Usados (Fenauto), Enilson Sales, sugere que, por enquanto, é difícil fazer comparações justas entre a desvalorização dos elétricos e dos veículos a combustão, uma vez que o mercado ainda está em desenvolvimento.

você pode gostar também