Palestinos criam gasolina a partir de plástico e o resultado é impressionante
Pesquisadores brasileiros estudam métodos sustentáveis de produção de combustível, inspirados em soluções improvisadas por palestinos na Faixa de Gaza.
Em um dos lugares mais afetados por conflitos no mundo, a Faixa de Gaza, um grupo de palestinos tem demonstrado uma impressionante capacidade de adaptação.
Com o bloqueio militar e a falta de combustíveis, eles encontraram uma forma inusitada de seguir em frente: produzindo gasolina sintética a partir de plástico.
Garrafas PET, sandálias velhas e outros resíduos plásticos, que normalmente seriam descartados, passaram a ser transformados em combustível. O processo, ainda que rudimentar e perigoso, representa um ato de sobrevivência e resistência em meio ao caos da guerra.
Vídeos que circulam no TikTok mostram verdadeiras refinarias improvisadas em meio a escombros, onde palestinos queimam resíduos plásticos para extrair biodiesel e gasolina sintética.
O combustível gerado é utilizado em carros, motocicletas e geradores, garantindo o mínimo de mobilidade e energia à população isolada.
Mas enquanto isso ocorre em condições precárias, cientistas brasileiros estudam uma versão segura e sustentável desse mesmo processo, com potencial de transformar o futuro energético.
A pesquisa brasileira que transforma lixo em energia limpa
Foto: Shutterstock
A milhares de quilômetros do Oriente Médio, pesquisadores da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) desenvolvem um projeto com base científica e foco ambiental: criar combustíveis sustentáveis a partir do plástico e da biomassa.
A pesquisa é conduzida pela engenheira química e doutoranda Edyjancleide Rodrigues, sob orientação dos professores Renata Braga e José Luiz Francisco Alves, do Laboratório de Tecnologia Ambiental (Labtam).
O objetivo é claro: desenvolver um combustível viável que reduza o impacto ambiental e aproveite materiais que seriam descartados.
Entre as matérias-primas utilizadas estão:
- Biomassa do sisal, planta típica do Nordeste, aproveitada após a extração das fibras;
- Resíduos plásticos industriais, como rebarbas de embalagens, pneus e restos da indústria de calçados.
A combinação desses materiais é submetida a um processo chamado pirólise, uma reação termoquímica em que os resíduos são aquecidos entre 450°C e 650°C em ambiente sem oxigênio. O resultado é um bio-óleo rico em hidrocarbonetos, base para a produção de gasolina e biodiesel sintéticos.
Do improviso à tecnologia: o impacto e os riscos
Enquanto os palestinos improvisam o processo em tonéis aquecidos por carvão, sem equipamentos de proteção e expostos a gases tóxicos, o trabalho em laboratório busca segurança, eficiência e padronização.
Segundo Edyjancleide, “o grande desafio é transformar resíduos plásticos em combustível sem comprometer a saúde humana e o meio ambiente. Nosso foco é a sustentabilidade e a economia circular, em que nada se perde, tudo se transforma.”
Além de reduzir o volume de lixo plástico, a pesquisa brasileira propõe uma nova rota energética capaz de diminuir a dependência dos combustíveis fósseis e, ao mesmo tempo, gerar renda e oportunidades locais.
O futuro da gasolina sintética no Brasil
De acordo com os pesquisadores, o combustível desenvolvido pela UFRN poderá, no futuro, ser misturado à gasolina convencional e utilizado em automóveis e até aeronaves, desde que aprovado pela Agência Nacional do Petróleo (ANP).
“O combustível feito de plástico não substitui o fóssil completamente”, explica a professora Renata Braga. “Mas pode reduzir a pegada de carbono e oferecer uma alternativa renovável e inteligente para a indústria.”
O Brasil, que produz mais de 7 milhões de toneladas de plástico por ano, enfrenta um grande desafio ambiental. Segundo a Fundação Joaquim Nabuco, cada brasileiro gera cerca de 64 kg de lixo plástico anualmente. Assim, transformar esse resíduo em energia representa uma solução estratégica para o país.
Ainda em fase inicial, iniciada em 2022, a pesquisa promete resultados promissores. Como resume o professor José Luiz Alves:
“Nosso objetivo é chegar aos parâmetros exigidos pela ANP e testar o produto em motores de combustão. É uma inovação que pode mudar o rumo da energia sustentável no Brasil.”
Da necessidade palestina à ciência brasileira, o reaproveitamento do plástico como combustível mostra que a criatividade humana é o motor da inovação. E, quem sabe, a gasolina do futuro possa mesmo nascer do lixo — transformando um problema ambiental em uma solução energética.
*Com informações Autoesporte