Faltam chips! Produção de carros pode parar no Brasil, mas montadoras chinesas não estão nem aí

Montadoras brasileiras enfrentam risco de paralisação devido à crise dos chips, enquanto chinesas prosperam com estratégias de produção robustas.

A indústria automotiva brasileira vive mais uma vez um momento de incerteza. O alerta sobre uma possível paralisação na produção de veículos reacendeu o fantasma da crise dos chips, que paralisou fábricas e causou prejuízos bilionários entre 2020 e 2022.

Mas, desta vez, o cenário parece dividido: enquanto montadoras tradicionais se preparam para possíveis cortes, as gigantes chinesas BYD e GWM seguem produzindo normalmente. Afinal, o que explica essa diferença?

Por que as montadoras do Brasil podem parar novamente?

Foto: Shutterstock

De acordo com a Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores), as fábricas brasileiras enfrentam risco de paralisação nas próximas semanas por causa da escassez de semicondutores, os componentes eletrônicos que funcionam como o “cérebro” dos carros modernos.

Esses chips automotivos são fundamentais para o funcionamento de diversos sistemas, como injeção eletrônica, sensores, câmeras e centrais multimídia. Sem eles, simplesmente não há como finalizar a montagem de um veículo.

A associação já comunicou ao governo sobre o risco iminente de interrupção da produção, o que pode afetar milhares de empregos e atrasar entregas em todo o país.

Enquanto isso, as chinesas BYD e GWM seguem firmes

Curiosamente, as montadoras chinesas instaladas no Brasil, como BYD (em Camaçari-BA) e GWM (em Iracemápolis-SP), afirmam que não serão impactadas pela nova crise dos chips. Ambas garantem que suas fábricas continuarão operando normalmente.

O motivo? Estratégia e planejamento. As duas marcas adotaram modelos de produção distintos, que reduzem drasticamente a dependência de fornecedores externos.

O segredo da BYD: independência tecnológica e produção própria

A BYD é uma das poucas montadoras do mundo com integração vertical, ou seja, fabrica internamente seus próprios componentes essenciais.

A empresa possui uma divisão chamada BYD Semicondutores, responsável por desenvolver e produzir chips usados em seus veículos elétricos e híbridos.

Essa independência foi crucial durante a pandemia e continua sendo agora. Graças a ela, modelos como o Dolphin Mini e o Song Plus seguem com produção estável no Brasil, sem risco de interrupções.

A estratégia da GWM: fornecimento direto da matriz na China

Já a GWM (Great Wall Motors) também se antecipou ao problema. A marca, que fabrica o Haval H6 no país, tem garantias de fornecimento direto da matriz chinesa.

Além disso, a empresa investiu em parcerias estratégicas e na aquisição de empresas de chips, o que assegura um fluxo contínuo de componentes eletrônicos.

Com isso, a GWM consegue manter sua produção ativa, mesmo diante de um cenário global de incertezas.

Entenda a origem da nova crise dos chips

Diferentemente da crise anterior, causada pela pandemia, o novo problema tem raiz geopolítica. Segundo a Anfavea, o foco está na empresa Nexperia, responsável por cerca de 60% dos chips usados na indústria automotiva mundial.

Um impasse entre o governo da Holanda, onde a empresa tem sede, e acionistas chineses pode restringir exportações e atrasar entregas.

A disputa ameaça o fornecimento global, principalmente para as montadoras que dependem exclusivamente desses chips.

Um novo cenário para a indústria automotiva

Por enquanto, entidades como a Abinee (Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica) e a Eletros informam que a falta de chips ainda não afeta outros setores. O impacto se concentra, neste momento, na cadeia automotiva tradicional.

A situação expõe um contraste cada vez mais evidente: as montadoras chinesas adaptaram-se e tornaram-se mais resilientes, enquanto as marcas convencionais ainda sofrem com a dependência global de semicondutores.

Mais do que uma crise, esse episódio pode marcar uma virada histórica na indústria automotiva brasileira, com as chinesas ganhando espaço e consolidando sua força num mercado em transformação.

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