China está dominando o mercado? União Europeia cria barreiras para segurar montadoras chinesas
União Europeia implementa normas rigorosas para conter o avanço de montadoras chinesas no continente.
A disputa por espaço no mercado automotivo europeu ganhou um novo capítulo. A União Europeia anunciou medidas mais rígidas para frear o avanço das montadoras chinesas, que vêm expandindo sua presença por meio da instalação de fábricas no continente.
O objetivo é conter o que as autoridades europeias chamam de “fabricação disfarçada”, quando empresas chinesas montam veículos na Europa apenas para escapar das tarifas de importação.
Segundo Stéphane Séjourné, vice-presidente da Comissão Europeia, há fabricantes que “montam carros chineses com componentes chineses e pessoal chinês na Espanha e na Hungria”, o que, nas palavras do comissário, “não está certo”.
Montadoras chinesas expandem presença na Europa

Foto: Shutterstock
A crítica de Séjourné mira principalmente marcas como BYD e CATL, que estão construindo grandes fábricas na Hungria e na Espanha, respectivamente.
Essas empresas são símbolos do avanço chinês sobre o território europeu, impulsionadas pela demanda crescente por veículos elétricos e baterias.
Além delas, Omoda, Jaecoo e Ebro também seguem o mesmo caminho. No entanto, suas operações são consideradas “semifabricadas”: os carros são produzidos na China e enviados parcialmente desmontados, no formato SKD (semi-knocked down), para serem finalizados em território europeu, uma estratégia que reduz custos e, até agora, ajudava a driblar as tarifas de importação.
A expectativa é que, até 2026, essas montadoras passem a adotar o formato CKD (completely knocked down), no qual os veículos chegam completamente desmontados e são montados com o uso crescente de componentes locais. Isso abriria espaço para uma cadeia produtiva europeia mais integrada, com fornecedores e empregos dentro do bloco.
Barreiras e desafios para as montadoras chinesas
Nem todas as tentativas de contornar as tarifas estão sendo bem-sucedidas. Um exemplo é o da Stellantis, que chegou a montar o Leapmotor T03, um carro elétrico chinês, na Polônia.
No entanto, as autoridades europeias determinaram que o veículo continuava sujeito às mesmas tarifas aplicadas aos modelos importados diretamente da China. Com isso, o projeto foi suspenso, e o carro voltou a ser trazido em sua forma original, como importado.
A medida mostra que a União Europeia está disposta a proteger sua indústria local e garantir que investimentos estrangeiros realmente gerem valor dentro do continente, e não apenas sirvam como um “atalho” comercial.
Europa teme perda de mercado e dependência tecnológica
As preocupações da Comissão Europeia não se limitam à concorrência direta. O avanço das montadoras chinesas nos segmentos de carros elétricos, híbridos e híbridos plug-in ameaça reduzir a participação das montadoras europeias, que pode cair de 70% para 55% até 2035, segundo projeções da própria Comissão.
A dependência de componentes chineses tende a crescer. Atualmente, cerca de 85% dos insumos usados pela indústria europeia vêm da China, número que pode aumentar para mais de 50%, caso o bloco não reforce sua base produtiva.
O que defende a Comissão Europeia?
Para Séjourné, a resposta não deve ser apenas tarifária. Ele propõe regras mais rígidas para o investimento estrangeiro, de modo a garantir que novas fábricas tragam inovação, empregos e valor agregado para o continente.
“As tarifas apenas destroem a cadeia de valor e criam tensões comerciais”, afirmou o comissário.
Com isso, a Europa busca um equilíbrio delicado: proteger sua indústria automotiva sem fechar as portas para os investimentos internacionais.
O desafio será manter a competitividade diante de um mercado global que, cada vez mais, gira em torno da tecnologia chinesa e da corrida pelos veículos elétricos.