Nem BYD ou GWM: por que as locadoras de veículos estão desistindo de carros elétricos?

Entenda a desvalorização dos elétricos e o desinteresse das locadoras neste segmento que, a princípio, parecia tão promissor.

Nos últimos anos, a promessa dos carros elétricos de transformar o mercado automotivo encontrou um grande obstáculo: a desvalorização acelerada dos veículos e a falta de demanda.

As locadoras de veículos, que historicamente representam uma grande fatia das vendas de automóveis, estão se afastando da compra desses modelos, o que levanta preocupações para montadoras como BYD e GWM.

Tradicionalmente, as locadoras de automóveis são responsáveis por cerca de 50% das vendas totais das montadoras, sendo uma parte crucial do ecossistema automotivo. No entanto, a Associação Brasileira das Locadoras de Automóveis (Abla) trouxe à tona dados preocupantes: as locadoras possuem apenas 4,3 mil carros elétricos e 6,8 mil híbridos em suas frotas, o que representa menos de 1% do total.

A crise nas locadoras

Foto: Shutterstock

Uma das maiores locadoras, a Localiza, encerrou 2023 com 2,7 mil modelos elétricos e híbridos em uma frota de 631 mil veículos. O problema começou quando esse setor começou a revender suas primeiras unidades elétricas adquiridas há cerca de três anos, que tiveram uma desvalorização de cerca de 40% a 45%. Isso impactou severamente a confiança das locadoras em continuar investindo em veículos elétricos.

A chegada de carros elétricos fabricados por montadoras chinesas no Brasil desempenhou um papel importante na desvalorização dos modelos já existentes.

As marcas tradicionais, que inicialmente vendiam seus elétricos a preços elevados, se viram forçadas a reduzir seus preços diante da concorrência acirrada, fazendo com que as locadoras que tinham comprado anteriormente acabassem arcando com um grande deságio financeiro.

Um exemplo é a Movida, que adquiriu em 2021 cerca de 600 modelos de marcas reconhecidas como Nissan, Renault, Fiat e BMW. Porém, a demanda foi tão baixa que muitos desses veículos acabaram parados e foram vendidos com preços até 40% abaixo da tabela Fipe.

Comparações desfavoráveis

Fora do Brasil, a situação é ainda mais complicada. A locadora americana Hertz, por exemplo, desistiu de comprar 100 mil carros da Tesla devido à rápida desvalorização dos seminovos. Mesmo assim, o presidente da Fenauto, Enilson Sales, destaca que as vendas de veículos eletrificados cresceram 90% entre janeiro e julho, com 33 mil unidades vendidas, embora ainda representem um nicho no mercado.

O impacto da desvalorização é sentido não apenas pelas locadoras, mas também pelos consumidores. Um caso notável é o de Maurício de Barros, que, após dois anos e meio, vendeu seu Peugeot e-208 por R$ 100 mil, um valor muito abaixo do que ele pagou. Apesar do desapontamento com a revenda, ele conseguiu comprar um novo modelo da BYD, com mais tecnologia e melhor desempenho.

As montadoras BYD e GWM, que prometem dinamizar o mercado brasileiro com suas ofertas, anunciaram que iniciarão a produção local em breve, embora inicialmente apenas montando kits trazidos da China.

Ambas as marcas estão atentas à dinâmica de mercado e têm adotado estratégias para a recompra de veículos seminovos, oferecendo valores próximos à tabela Fipe para incentivar consumidores a trocarem seus modelos.

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