Oferta boa demais? Veja por que carros de repasse podem esconder armadilhas
Você pode estar comprando um problema e nem faz ideia.
Em meio à crescente busca por veículos com preços acessíveis, muitos consumidores acabam se deparando com uma expressão recorrente em anúncios online: carro de repasse. Mas será que essa é uma boa oportunidade ou uma cilada disfarçada de economia? E mais: essa prática é mesmo legal?
A seguir, você vai entender o que realmente significa um carro de repasse, quais os riscos envolvidos, quando a venda pode ser considerada ilegal e em que situações esse tipo de negócio pode valer a pena — se feito com cautela.
O que é um carro de repasse?
O termo carro de repasse refere-se à venda de um automóvel no estado em que se encontra, ou seja, sem qualquer tipo de garantia sobre itens essenciais como motor, câmbio ou componentes eletrônicos.
Diferentemente dos veículos vendidos por lojas e concessionárias, que geralmente passam por revisões e pequenos reparos antes de serem disponibilizados no pátio, o carro de repasse é anunciado como está.
Ou seja, neste caso, o comprador assume o risco total sobre eventuais defeitos ou necessidade de consertos.
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Venda sem garantia é legal?
Nem sempre. Quando o vendedor é uma empresa, como uma loja de veículos, ela é obrigada a seguir as normas previstas pelo Código de Defesa do Consumidor (CDC).
O artigo 18 do CDC determina que todo fornecedor responde por vícios de qualidade que tornem o produto impróprio para o uso ou que reduzam seu valor de mercado.
Ou seja, mesmo que o veículo seja vendido como “repasse”, a loja ainda é legalmente responsável por possíveis defeitos ocultos, desde que a reclamação seja feita em até 90 dias após a compra.
Além disso, se o problema não for resolvido no prazo de 30 dias, o consumidor pode exigir a substituição do veículo, o abatimento proporcional do preço ou a devolução integral do valor pago.
Já quando o negócio é feito entre pessoas físicas, o CDC não se aplica. Nesse caso, não há obrigação legal de garantia e o comprador assume todos os riscos envolvidos.
Comprar carro de repasse vale a pena?
A resposta depende de diversos fatores. Em alguns casos, o carro de repasse pode ser, sim, um bom negócio, principalmente quando os defeitos são estéticos ou de baixa complexidade mecânica. Riscos, como arranhões na lataria, plásticos quebrados ou necessidade de pintura, podem ser resolvidos com custo reduzido.
Contudo, é essencial avaliar o custo-benefício com atenção. Se o preço de compra estiver consideravelmente abaixo da tabela e os reparos forem simples e baratos, o carro de repasse pode representar uma oportunidade real de economia.
Por outro lado, veículos com danos graves, como falhas estruturais, pane elétrica ou problemas no motor, podem transformar o negócio em um prejuízo considerável — especialmente se você não tiver conhecimento técnico para avaliar os riscos.
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O carro de repasse pode ser vantajoso para quem busca economizar e está disposto a assumir os riscos, mas exige cautela redobrada e, de preferência, o auxílio de um mecânico de confiança antes da compra.
Se a transação for feita com uma empresa, os direitos do consumidor estão garantidos por lei, mesmo que o anúncio diga o contrário. Já nas negociações entre particulares, a responsabilidade recai integralmente sobre o comprador.
Antes de fechar negócio, avalie com atenção: preço, estado do veículo, custo dos reparos e segurança jurídica. Assim, você evita surpresas desagradáveis e toma uma decisão mais consciente.