Plano das montadoras é vender menos veículos e cobrar mais caro

Fabricantes de carros adotam nova estratégia de vendas ao perceber que apostar em volume não é rentável.

Muito se fala sobre o fim do conceito de carro popular, aquele zero-quilômetro de entrada com preço mais acessível. À medida que o tempo passa, mais representantes dessa categoria deixam o mercado, como Volkswagen Gol, Ford Ka e Toyota Etios.

Por outro lado, novos modelos de SUVs são lançados todos os anos e chegam às lojas equipados com itens cada vez mais modernos. Essa tendência evidencia que as montadoras de veículos mudaram sua estratégia de vendas.

O segredo agora é vender menos e lucrar mais. As expectativas para 2023 são de 2 milhões de automóveis e comerciais leves vendidos, enquanto em 2019 o número de emplacamentos chegou a 2,6 milhões. Quatro SUVs estão na lista dos 10 mais vendidos neste ano, contra apenas dois há quatro anos.

Mudança no mercado automotivo

Durante a pandemia, quando faltavam componentes para montar carros novos, as empresas abandonaram o volume para focar em produzir modelos mais rentáveis. Segundo o consultor automotivo Cassio Pagliarini, o cenário atual é resultado de uma série de fatores.

“Houve uma inflação de commodities – como aço, alumínio, vidro e plástico – muito grande e que, como são precificadas em dólar, que também aumentou, fez os efeitos se multiplicarem. Somente a variação dos custos já fez o preço dos carros subirem”, explica.

Ele afirma que o mercado também sofre com o aumento das exigências legais do governo. A obrigatoriedade de airbags e freios ABS em automóveis novos, por exemplo, tirou do mercado o antigo Uno.

“Temos determinações do Proconve, em relação a emissões, e medidas de segurança como controle de estabilidade. Colocar equipamentos caros em veículos baratos dá um forte impacto nos preços. Por isso, diversas montadoras tiveram que retirar produtos do mercado”, completa o especialista.

Volume x valor agregado

O modelo antigo da indústria automotiva era voltado para o volume, ou seja, vender mais barato para compensar o lucro com a quantidade de vendas. Agora, a estratégia é fabricar carros com maior valor agregado que, mesmo saindo menos, geral mais lucro.

“A falta de componentes para a construção dos carros piorou a situação, já que as montadoras investiram em uma produção grande de veículos e não conseguiram finalizá-los. Como a indústria estava sem volume de carros para vender e rentabilizar o negócio, precisava apostar em veículos com maior valor agregado, que são mais rentáveis. Isso deixa os carros de populares de lado no portfólio de vendas. A proposta agora é em maior valor agregado e maior margem de rentabilidade”, detalha Ricardo Bacellar, fundador da Bacellar Advisory Boards.

A crise econômica do país agrava ainda mais a situação porque não há público para os carros de entrada.

“Mesmo que a situação dos componentes se equilibre, o cenário não mudará de forma tão simples. Estamos vivendo um empobrecimento do brasileiro médio. A relação entre o aumento do salário médio do brasileiro e o aumento do valor do carro é muito discrepante. O consumidor está cada vez mais distante do sonho de comprar um carro”, completa.

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