Preços altos transformam carro em ‘luxo’ para ocasiões especiais

Motoristas preferem alugar veículos em momentos específicos do que ter um carro na garagem em razão do aumento dos preços.

Quem vendeu o carro antes do início da pandemia teve que lidar com uma situação bem inusitada causada pela alta nos preços dos veículos. Com o dinheiro da venda, muitos motoristas descobriram que não tinham o suficiente nem mesmo para colocar um modelo inferior na garagem.

A solução encontrada por parte deles foi investir a grana e tornar o automóvel um item exclusivo para momentos de necessidade. No dia a dia, andam de ônibus ou de transporte por aplicativo. Quando precisam dele para uma ocasião especial, como uma viagem com a família, alugam um veículo.

Aqueles que adotam essa estratégia para fugir dos preços excessivamente altos do mercado automotivo afirmam que ela custa menos que manter um carro, considerando os gastos com manutenção, seguro, financiamento e outras despesas.

“É um novo conceito: as pessoas estão avaliando que o carro deixou de ser um ativo interessante. Percebemos isso depois da pandemia. Muitas famílias entendem que não precisam ter um carro grande, ou sequer ter um carro em casa, porque é mais barato alugar quando necessário”, diz o conselheiro da Associação Brasileira de Locadoras de Automóveis (Abla), Paulo Miguel Júnior.

Essa transformação tem provocado o crescimento do segmento de locação no Brasil, juntamente com o aumento da busca por veículos por assinatura e a terceirização de frotas. A previsão é que as locadoras terminem o ano com uma frota recorde superior a 1,5 milhão de carros.

Dificuldade na compra

O novo comportamento do brasileiro é resultado direto da alta nos preços dos automóveis. Em 2016, o carro zero mais barato do mercado custava cerca de R$ 30 mil, mas hoje o modelo mais em conta não sai por menos de R$ 70 mil.

Somado a isso, há o problema de falta de opções de entrada. Segundo Ricardo Bacellar, fundador da Bacellar Advisory Boards, a indústria anteriormente focava em volume e compensava o baixo lucro com a quantidade de vendas. Hoje, ela prefere vender menos e lucrar mais com o produto.

O fracasso do modelo de negócio antigo excluiu a parcela da população de renda mais baixa do mercado. Bacellar acredita que o contexto de crise econômica do país deve piorar ainda mais a situação, já que não há público para carros de entrada.

“Mesmo que a situação dos componentes se equilibre, o cenário não mudará de forma tão simples. Estamos vivendo um empobrecimento do brasileiro médio. A relação entre o aumento do salário médio do brasileiro e o aumento do valor do carro é muito discrepante. O consumidor está cada vez mais distante do sonho”, finaliza o especialista.

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